sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Bom cinema: Pequena Miss Sunshine

Você já deve ter ouvido falar que este filme está concorrendo a quatro oscars, incluindo melhor filme, mas acredite: apesar disso, o filme realmente é muito bom.

Eu diria que o filme está num meio termo entre o alternativo e o comercial. Ele não se encaixa confortavelmente em nenhum dos dois lados do front - por vezes é louco demais para ser comercial, por outras caricato demais para ser alternativo. Na trama, uma família viaja do Novo México à Califórnia em uma velha kombi para que a menina (a simpática atriz-mirim Abigail Breslin, de 10 anos, que você viu em Sinais) participe do concurso de miss infantil com o qual sonha em tempo integral. Os membros da família podem ser facilmente etiquetados: o pai é um fracassado que dá palestras motivacionais, o tio é um suicida, o avô um depravado que usa heroína e o irmão fez um voto de silêncio que já dura quase um ano.

Foi-se o tempo em que personagens "muito loucos" eram garantia de bons filmes: hoje em dia, mesmo os filmes comerciais embarcaram nessa para soarem modernos, então essa coisa de juntar um bando de malucos em tramas insólitas tem rendido muita porcaria hollywoodiana. Mas em Pequena Miss Sunshine, a coisa funciona surpreendentemente bem, em grande parte graças ao elenco: todos os atores merecem crédito por uma excelente atuação. É difícil escolher um favorito, mas o tio Frank de Steve Carell pode ser "o homem" do filme: simplesmente brilhante como o suicida especialista em Proust. O jovem Dwayne também merece crédito: mesmo sem dar palavra em grande parte do filme, ele brilha em diversas cenas. Inclusive no momento mais tragicômico do filme. Se eu contar mais, estraga.

O entrosamento do elenco é vital para o filme, já que a idéia é justamente mostrar que só com a união de todos esses loucos as coisas dão certo. Não é a toa que a velha kombi precisa ser empurrada por todos o filme inteiro. O final do filme é de rolar de rir, tirando um sarro com a pedofilia "embutida" nesses concursos de miss infantis. Imperdível. O filme é inteligente mas não é filme cabeça não, pode alugar para ver com o/a namorado/a que ele/a vai dar boas risadas.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Boa música: Tom Waits

Confesso que conheço pouquíssimo do Tom Waits. Sempre ouvi dizerem que ele é uma espécie de Bob Dylan, porém mais melódico. Até que topei com a revista Piauí deste mês, que traz uma coluna mega-elogiosa ao velhinho rock n'roll, e decidi que era hora de conhecê-lo. Mas o cara tem mais de 30 anos de carreira! Por onde eu começo?

Fuçando aqui e ali na internet achei este excelente site de crítica musical, com esta irresistível crítica ao disco Closing Time: http://starling.rinet.ru/music/waits.htm#Time. Que conste dos autos que parte do que estarei escrevendo abaixo li no site do sujeito, que definitivamente merece uma visita de vocês.

Closing Time se refere àquela hora em que os bares estão fechando, e os bebuns começam a sair sem saber muito bem para onde ir. E, de fato, as músicas do disco parecem ser histórias de bar: o sujeito que fica olhando de longe uma mulher no bar, imaginando romance, até ela sair do bar, sem trocar palavra com ele, em I Hope That I Dont Fall In Love With You. Há verdadeiras pérolas como Midnight Lullaby (considerada por muitos a melhor música do velho Tom). Mas sou obrigado a concordar com o autor da crítica: a melhor canção é mesmo Martha, uma baladinha com lindo arranjo ao piano. Imagine a cena: no mesmo bar citado anteriormente, um homem liga para uma antiga paixão, quarenta anos depois de seu último encontro. Naquele estado deprê-nostálgico que só quem já tomou algumas biritas conhece, ele diz "Martha, Martha, I love you, can't you see?"

Vai por mim: Tom Waits é música de macho, até nas baladas. Dá uma escutada em Martha, clicando no play aí embaixo, e diga se estou exagerando. É de chorar.



Até vou dar uma colher de chá e traduzir a letra :-)

Martha

Operator, number, please:
it's been so many years
Will she remember my old voice
while I fight the tears?


Hello, hello there, is this Martha?
this is old Tom Frost,
And I am calling long distance,
don't worry 'bout the cost.


'Cause it's been forty years or more,
now Martha please recall,
Meet me out for coffee,
where we'll talk about it all.

And those were the days of roses,
poetry and prose and Martha
all I had was you and all you had was me.
There was no tomorrows,
we'd packed away our sorrows
And we saved them for a rainy day.

And I feel so much older now,
and you're much older too,
How's your husband?
and how's the kids?
you know that I got married too?
Lucky that you found someone
to make you feel secure,
'Cause we were all so young and foolish,
now we are mature.

And those were the days of roses,
poetry and prose and Martha
all I had was you and all you had was me.
There was no tomorrows,
we'd packed away our sorrows
And we saved them for a rainy day.

And I was always so impulsive,
I guess that I still am,
And all that really mattered then
was that I was a man.
I guess that our being together
was never meant to be.
And Martha, Martha,
I love you can't you see?


And those were the days of roses,
poetry and prose and Martha
all I had was you and all you had was me.
There was no tomorrows,
we'd packed away our sorrows
And we saved them for a rainy day.

And I remember quiet evenings
trembling close to you...

Marta

Telefonista, disca por favor:
já faz tantos anos
Será que ela vai lembrar da minha velha voz
enquanto eu luto com as lágrimas?

Alô, é a Marta?
Aqui é o velho Tom Frost,
Tô discando interurbano,
não esquenta com o custo da ligação.

Porque já faz uns quarenta anos,
Marta, por favor lembra,
Me encontra no café,
e vamos falar da vida.


Pois aqueles foram dias de rosas,
poesias e prosas, e Marta
tudo o que eu tinha era você, e você só tinha a mim.
Não havia amanhã,
A gente embalava as mágoas
e as guardava pros dias de chuva.

E eu me sinto tão mais velho hoje,
mas você também está,
Como vai o marido?
e as crianças?
Sabia que eu casei também?
Que sorte você ter achado alguém
pra te fazer sentir segura,
Porque a gente era tão jovem e inocente
mas hoje somos maduros.

Pois aqueles foram dias de rosas,
poesias e prosas, e Marta
tudo o que eu tinha era você, e você só tinha a mim.
Não havia amanhã,
A gente embalava as mágoas
e as guardava pros dias de chuva.

E eu sempre fui tão impulsivo,
acho que ainda sou,
E só o que importava naqueles dias
era que eu era um homem.
Acho que nós dois juntos
não era mesmo pra ser.
E Marta, Marta,
Eu te amo, você não percebe?

Pois aqueles foram dias de rosas,
poesias e prosas, e Marta
tudo o que eu tinha era você, e você só tinha a mim.
Não havia amanhã,
A gente embalava as mágoas
e as guardava pros dias de chuva.

E eu me lembro das tardes pacatas
tremendo junto a você...